COSTA,
H. Panorama da Poesia Brasileira no século XX. Revista de Letras, São Paulo, 40, 2000, p.13 – 39.
O artigo
“Panorama da poesia brasileira no século XX” escrito por Horácio Costa,
presente na Revista de Letras do ano
de 2000, analisa o corpo da poesia nacional “para enfatizar o peso da tradição
e da continuidade” (2000, pg.13), sobre o ponto de vista da ruptura. O autor
introduz seu trabalho citando dois fatores importantes nos quais ele deseja
guiar seu texto: O primeiro fator, que Costa acredita serem suposições
decadentistas, é o da consciência de fim de século. O segundo fator, é o
condicionante biográfico que direcionou sua pesquisa.
Costa
inicia sua análise citando poetas românticos do Brasil no século XIX, que já
exerciam mudanças sociais e políticas no país, o autor destaca que algumas
mudanças sociais ocorridas ao longo deste período, tiveram grandes influências
nos temas e nas formas dos poemas escritos na época, no qual já podiam se notar
algumas manifestações dos procedimentos modernistas de escrita.
É em 1880,
com o parnasianismo, que ocorre uma mudança significativa no gosto literário, o
progresso do positivismo burguês passa a fazer parte dos ideias da época. Com
isso, os padrões eloquentes das escritas anteriores começa a ser desprezado e vistos
como ultrapassados. Os parnasianos, que buscavam a objetividade nas palavras e
o perfeccionismo nas formas, pecaram, nas palavras do autor, por serem medianos
em seus temas. Para embasar suas afirmações, Costa traz excertos de poemas
parnasianos de Vicente de Carvalho e Olavo Bilac, nos quais ele explica as
dificuldades temáticas.
Diferente
dos parnasianos, os simbolistas, não cultuam a objetividade. De acordo com o
autor “os simbolistas representaram a face oposta do pêndulo da poesia
brasileira do fim do século XIX e início do século XX” (2000, pg.18). Esses
poetas tinham uma inclinação pelo lado obscuro e problemático da existência e
suas obras eram carregadas de elementos biográficos. O autor cita Cruz e Souza como
o poeta com melhores exemplos de poemas simbolistas.
Ao tratar
sobre os poetas parnasianos e simbolistas o autor se questiona sobre a forma de
ler a tradição, que para ele, é uma tarefa irrealizável, mas possível, pois o
leitor traz suas próprias experiências no momento de ler um texto. Para ele,
“qualquer leitura possui uma tolerância- única verdadeira virtude possível para
o leitor”. (2000, pg. 20)
Pondo fim
aos tratados sobre escritores parnasianos e simbolistas o autor discorre sobre
Augusto dos Anjos, que consegui em seus poemas fundir parnasianismo e
simbolismo, em uma escrita singular naquele período pré-modernista.
Depois de discorrer sobre romantismo, parnasianismo e simbolismo, o
autor inicia sua fala sobre o modernismo. Conforme Costa, o
modernismo representou uma ruptura que reafirmou a tradição “do parnasianismo,
o modernismo herdou um otimismo e confiança nos meios expressivos; do
simbolismo recebe a continuidade na manifestação todo poderosa o eu-lírico e o
gosto pelo momentâneo.” (2000, p.22). A
apreciação pelo presente no modernismo não abandona uma preocupação com o
futuro, daí sua visão progressista.
O autor destaca que a mudança ocorrida nas artes
brasileiras no período modernista foi eficaz e frutífera. Costa analisa alguns
autores que tiveram participação importante no início do Modernismo, chamado
por ele de “modernismo heroico”, são eles Manuel Bandeira, Oswald de Andrade e
Cassiano Ricardo.
Após falar sobre os poetas da fase
inicial do modernismo, o autor passa a discorrer sobre a segunda geração de
modernistas, como Murilo Mendes e Carlos Drummond de Andrade os quais o autor
aponta características importantes do modernismo de sua época. O autor revela,
que em sua opinião, o modernismo ocorrido no Brasil entre 1922 e 1930 foi um
período de introdução à modernidade.
Costa diz que a geração de 45, período que carecia
de inovações estéticas, apenas um poeta se destacou por instituir o rigor como
princípio fundamental de composição poética, é João Cabral de Melo Neto, que
tem uma poesia objetiva, valendo-se de um tom coloquial que, ao mesmo tempo,
preserva a fala antiga. Surge um novo tipo de verso: o mineral, “estranha transformação
do verso elétrico dos modernistas e do verso animal dos modernos” (2000, pg.32).
O pesquisador aponta, que a crescente consciência
política brasileira na década de 60 afetou toda sociedade e também os poetas.
Houve uma aproximação dos poetas concretos com música popular de vanguarda,
chamada de Tropicalismo, tendo como representantes Caetano Veloso e Gilberto Gil.
“O Tropicalismo é, dessa forma, uma espécie de conciliação da ‘ruptura’
concreta: nova liberação do eu, do poeta como bardo arlequinal, e reverso da
modernização que imperou nos anos 50 no Brasil e que dá lastro profundo ao
movimento concreto.” (2000, pg. 36).
Costa afirma, após realizar um panorama a respeito
da poesia brasileira no século XX, que atualmente não existe um programa estético
ou político na poesia, e que isso não é mais considerado uma imperfeição, sendo
“uma necessidade que não se concretiza para a preocupação do poeta.” (2000, pg.38). Esse fato, discorre o autor, é consequência
da emergência total da tradição, de todas as vozes, “de uma consciência
abarcadora que se vê diante de opções múltiplas, contraditórias e, do ponto de
vista da poesia, todas igualmente válidas” (2000, pg.39).
Ao realizar esse movimento de recuperação da
tradição, ocorre uma ruptura com a noção de sua sequencialidade. Para Costa,
todos os programas são o programa e o presente é denominado como a
pós-modernidade, período no qual “o poeta retoma a reflexividade e abre-se para
todas as influências como no tempo moderno, sem que por isso siga acreditando
que está vivendo a ‘modernidade’” (2000, pg.39). Esta foi superada por sua
própria obstinação crítica, tornando-se uma categoria histórico-referencial.
Ele conclui se trabalho dizendo, que a pós-modernidade
vive “um presente contraditoriamente antigo – porque nele está presente todo o
passado – e futuro – porque sem um projeto que impor e/ou defender estética e
historicamente, a própria noção de futuro balança na mente ocidental.”
(2000, p.39).