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BAGNO, Marcos. Certo ou errado ? Tanto faz!
In. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo:
Parábola, 2007, p.141-161
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No
capítulo “Certo e errado ? Tanto faz!” de Marcos Bagno traz a síntese todos os
usos de vernáculos em diferentes níveis de variação linguística que pouco a
pouco avançam sobre outros usos da língua. Segundo Bagno, as gramáticas
normativas se baseiam na escrita e em textos literários, sem levar a
espontaneidade que a língua a língua apresenta na oralidade, por exemplo. As
gramáticas normativas fazem uma apresentação anacrônica da língua, isto é,
desvinculada dos usos reais contemporâneos, até mesmo da escrita literária
atual. No entanto, justamente por ser o vernáculo o terreno onde brota a
mudança linguística, é que devemos nos dedicar a conhecê-lo com mais precisão.
O vernáculo brasileiro acaba sendo excludente no que diz respeito ao uso de
variações linguísticas mais estigmatizadas, sendo que tal estigmatização se dá
pelo papel social que os indivíduos que usam tais variedades. Já os que possuem
uma posição social prestigiada, têm sua variação linguística aceita no meio.
Por exemplo, as palavras “ ouro, roupa, comprou, louco” são ditas como “o” o
ditongo “ou” ( oro, rôpa, poco etc), ninguém interrompe uma conversas quando
alguém não fala o ditongo “ou” por tal variação estar relacionada a pessoas de
prestígio social maior. Já as palavras “abelha, telha, palha, trabalha” são pronunciadas “abeia, teia, paia”, trabaia” pelas pessoas
de baixa escolaridade, que possuem a variação estigmatizada, são tidas como
erradas por pessoas de alta escolaridade, pela não utilização do dígrafo LH.
No
subcapítulo “ Os mais estgimatizados”, o autor aborda sobre os traços
descontínuos que que são os fenômenos línguísticos que sofrem maior carga de
preconceito e discriminação na nossa sociedade, por caracterizar a variedade
linguística de falantes com baixo ou nenhum prestígio social. As variedades
linguísticas estigmatizadas não surgiram por falta de desleixo ou ignorância
dos falantes, elas surgiram por questões etmológicas da língua.
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Queda da vogal átona postônica em
palavras paroxítonas: córrego/ corgo; pássaro/ passo; no latim para português;
tégula/telha; apícula/ abelha.
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Não nasalização de sílabas postônicas:
home/ homem; ontem/ onte
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Monotongação de ditongos átonos crescentes
em posição final: notíca/ notiça;
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Rotacismo: troca de L por R: planta/
pranta; placa/ praca etc
·
Pronúncia [y] por palavras como: abelha/ abeia ; telha/
teia etc.
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Eliminação do plural redundante, marcado
em geral só nos determinantes: os menino, as casa, aquelas coisa toda etc.
Mudança que ocorreu no galego português e francês.
·
Redução da morforlogia verbal [eu] canto
[tu, você, ele, vocês, eles] canta, também ocorre em centros urbanos
escolarizados.
·
Um dos pronomes do caso reto em função
de complemento: abraça eu, beija eu, ela gosta muito de tu. Acontece em centros
urbanos escolarizados.
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Uso do pronome oblíquo MIM como sujeito
de infinitivo depois da preposição pra/ para: É COISA DEMAIS PARA MIM FAZER,
recorrente em centros urbanos escolarizados.
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Formação analógica do verbo ponhar a
partir da primeira pessoa PONHO: EU JÁ PONHEI A MESA DO JANTAR, processos
semelhantes ocorre nos maiores centros urbanos.
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Surgimento da preposição NE, deduzida
NO, NA, NUM: ELA MORA NE GOIANIA.
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Uso de advérvios de intensidades com
formas superlativas: MAIS, MIÓ, MAIS PIÓ, MUITO ÓTIMO. Recurso enfático que
ocorre nos centros urbanos escolarizados.
·
Léxico característico, variável, de
região para região: FRUITA, LUITA, OITUBRO. Muitos dos vocabulários utilizados
pertence a literatura medieval e clássica.
O
autor cita , alguns dos traços mais característico do vernáculo geral
brasileiro ,que aparecem na língua falada por todos os brasileiros ,
constituindo assim aquilo que é nosso na língua , aquilo que nos identifica
mais intimamente como falantes do português brasileiro contemporâneo . O autor
relata ainda que a força do vernáculo é muito poderosa , aos poucos esses
traços característicos vão conquistando espaço também nos gêneros textuais mais
monitorados .Alem disso, o autor vai
elencar os traços graduais do vernáculo brasileiro, como por exemplo a redução dos
ditongos /ey/ a /e/e /ay/a /a/ diante de consoantes palatais ou da vibrante
simples : beijo [bêjo] , cheiro [chêro] peixe [pêxe], caixa [caxa]etc,.Assim a
convenção ortográfica leva a pronuncia forçada , artificial , que não
correspondem á realidade falada pela imensa maioria dos brasileiros de todas as
regiões .Segundo o autor esses fenômeno interfere no processo de alfabetização
, uma vez que a tendência do aprendiz é escrever a vogal simples e não o
ditongo . Também é responsável por casos de hipercorreção , como as escritas
carangueijo, bandeija , prazeiroso etc.
Neste capítulo o autor cita que os fenômenos linguísticos
são investigados e que fica confirmado que essa variação no falar já faz parte
da gramática do português brasileiro, sendo percebida em todas as esferas
comunicativas, porém alguns defensores da norma-padrão tradicional desprezam os
avanços que propõe um trabalho que contemple essa variedade, negando assim o
direito de apresentar no ambiente escolar a identidade cultural do país. Para o
autor não considerar o modo de falar de um povo é irracional, é ignorar a
evolução, já que a língua não é estática ela evolui com seus falantes; não é
possível mudar a norma padrão, já que todos devem aprender a norma que rege a
língua falada no país, porém é preciso entender que não é só dentro da norma
padrão que a língua se adéqua, é necessário aceitar as outras variedades que
compõem o léxico falado no país. Segundo o autor não adianta lutar contra as
mudanças sociais, assim também acontece na língua, é necessário que se tente se
adaptar a esse falar que permeia a sociedade e acompanha todas as evoluções
ocorridas.
O
autor ressalta que não importa a maneira na qual a pessoa fala, isso tanto faz,
mas é necessário que se respeite a forma com que as outras variantes da língua
são usadas. O autor não propõe a extinção da forma tradicional da fala, ele
deseja que haja uma democratização desta fala, para que não acorram
preconceitos linguísticos.
Para
o autor, a língua não deve ser usada como forma de exclusão social, é
necessário que se conheça a história da língua para que compreendamos a riqueza
de nosso vocabulário, e não se valer de normas tradicionais de gramática para
descriminar a fala dos outros.