BUENO,
Luís. Os três tempos do romance de 30. Revista
Teresa (USP), São Paulo, v. 3, p. 254-283, 2003.
Em
seu ensaio Os três tempos do romance de 30, publicado pela revista Teresa da Universidade Estadual de São
Paulo (USP), o pesquisador Luís Bueno defende a ideia de que os romances
publicados na década de 30 passaram por três fases distintas.
Para
o autor, a década de 30 não pode ser vista apenas como um tempo de profunda
cisão intelectual, na qual a polarização ideológica seria facilmente
identificada nos membros de dois grupos distintos, dos quais os romancistas da
época faziam parte, mas sim como um dos três tempos no qual este período se
divide. Para ilustrar sua tese, o autor faz um levantamento minucioso de obras
publicadas na época relacionando-as com o contexto social vivido pelos autores
em cada um dos tempos apresentados por ele.
No
primeiro tempo do romance de 30, de 1930 à 1932, Bueno destaca a inquietação
vivida pelos autores deste tempo, o desejo de criar uma literatura que abrangesse
uma definição ideológica concisa. Esta inquietude, pode ser notada em obras
como O país do Carnaval e Inquietos que, segundo o autor,
apresentam uma narrativa mais focada no coletivo que no individual, ilustrada
por jovens que procuram por estabilidade para afirmar suas ideologias, vivendo
uma inquietude constante durante esta busca. O autor destaca ainda outros
romances que buscam algo mais que o anseio por uma definição ideológica, são
obras que se aproximam das características do romance social, mas não chegam a
alcançar este objetivo. Nestas obras como Gororoba,
O Quinze e Menino de Engenho, os autores, elite intelectual, tenta aproximar as
camadas mais baixas com a elite, mas acabam falhando neste esforço pois não
parece algo Natural.
A
polarização, enfatizada anteriormente por Bueno, que dividia as elites
intelectuais da época, é o que move o segundo tempo do romance de 30, 1933 à
1936, é neste período que o romance social atinge seu auge. Alguns romances publicados
neste período, chamados de romance proletário como, Cacau, Os Corumbas e Serafim Ponte Grande, trazem novidade
para o romance brasileiro ao inserir em sua narrativa figuras marginais, desta
forma, estes romances apontam pra uma maior preocupação com as revoltas e com as
massas, o coletivo.
Há
nestes romances, um rompimento com o romance burguês, com o individualismo, a
partir deste momento a ação individual passa a ser um conjunto amplo de ações. Como
destaca Bueno, “o que o sucesso de Cacau
e Os Corumbas, mais a discussão que
se seguira a ele, promoveu foi um verdadeiro mergulho da ficção brasileira
naquilo que podemos chamar de “figuração do outro” (BUENO, 2002, p. 262)
O
autor ressalta em seu texto, o empasse enfrentado por alguns escritores ao
criar um romance proletário, pois em algumas obras, mesmo se falando sobre
classes marginais, ainda se podia notar um olhar que distinguia a superioridade
entre as classes intelectuais das marginais. Porém, aponta Bueno, mesmo com
esse distanciamento entre classes sociais, houve um grande esforço da parte
destes escritores para ver além dos limites de sua própria intelectualidade e
introduzir na cultura letrada “elementos até aquele momento tidos como
bastardos ou nitidamente inferiores.” (BUENO, 2002, p. 270)
Este
movimento de figuração do outro não foi o único movimento ocorrido nesta fase.
As classes mais altas também estiveram presentes nos romances brasileiros
destes anos, romances que eram o oposto do romance proletário. Estas obras, chamadas
de literatura intimista ou psicológica, não apresenta nenhum traço da
literatura de massa, o foco desses romances é o indivíduo. Bueno, cita alguns
autores importantes que representam este tempo, mas destaca que a obra mais
relevante é a escrita por Octávio de Faria, suas obras abordam temas burgueses,
como religião e política. Tal qual apontado anteriormente nos romances
proletário, os romances mais intimistas também sofreram impasses na escrita.
Bueno
diz que, mesmo a intelectualidade estando dividida em dois lados, na qual
haviam diferentes formas de pensamento e escrita, “o movimento geral entre os
dois lados da polarização não se dá em sentidos opostos, e sim em termos de
trajetórias paralelas.” (BUENO, 2002, p. 273)
O
último tempo descrito por Luís Bueno é o tempo da dúvida, de 1937 à 1939, no
qual o romance social passa por um esgotamento, vários são os acontecimentos
que levam a este fato, como a instauração do Estado Novo, que alteram mudanças
nos grupos de intelectuais da época. O ambiente literário também passa por
mudanças, o romance social já não é mais visto como novidade. Surge uma nova
dúvida, diferente dos inquietos que buscavam uma convicção firme, esta dúvida
“nasce da incerteza diante de um regime definitivamente fechado e da perspectiva
de uma guerra que iria decidir o destino do mundo” (BUENO, 2002, p. 279)
Por
fim, o autor encerra seu ensaio apontando esse estado de dúvidas quanto ao
futuro que despontava no final da década de trinta. Bueno, finaliza o seu
artigo dizendo as seguintes palavras: “Num tempo de dor, é preciso assumir a
dor e construir sobre ela um futuro. A única opção além dessa parece ser
desistir. É esse o alvorecer da nova década que o romance brasileiro desenha: o
da ditadura e o da ameaça da vitória nazista numa guerra de impensável
violência” (BUENO, 2002, p.283)
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